A tragédia no litoral de São Paulo trouxe à tona um tema que pouco se debate quando o assunto é desastre natural: a fragilidade geográfica da Serra do Mar. Trata-se de uma cadeia montanhosa rochosa de mais de 1.000 km de extensão, formada principalmente por granitos e gnaisses. É justamente nessa característica onde se esconde o perigo.

Em alguns pontos, a espessura da camada de terra sobre as rochas é de menos de um metro. Rogério da Silva Felipe, geólogo do Instituto Água e Terra (IAT), lotado na Defesa Civil Estadual, é responsável pelo mapeamento de áreas críticas e realizou uma análise completa da situação da Serra do Mar no Paraná. 

Segundo ele, há zonas de risco ao longo de toda a região. “Temos riscos de deslizamento de solo e de corrida de lama ao longo dos rios, como ocorreu em 2011, além do rolamento de rochas grandes”, explicou. Entre os maiores desastres já registrados no Paraná, as chuvas de março de 2011 atingiram a região de Guaraqueçaba, Antonina, Paranaguá e Morretes. 

De acordo com a Defesa Civil, foram registradas mais de 2.500 ocorrências relacionadas às chuvas, que foram de 230 mm ao longo de 48 horas. Devido ao acontecimento, quatro pessoas morreram e mil ficaram desalojadas. Ao todo, 18 mil pessoas foram afetadas.

O geólogo destacou que chuvas volumosas combinadas a um solo já úmido são uma armadilha na região. “Com uma camada tão fina de solo permeável, um volume alto de chuva pode gerar uma saturação. A água vai escorrer entre o solo e a rocha, promovendo o escorregamento de todo o piso de terra do local”, destacou. 

“Se essa terra vai parar nas canaletas de água, a corrida de lama vai percorrer alguns quilômetros até chegar na parte de baixo da Serra em uma velocidade muito alta, erodindo as laterais desses canais, engrossando mais a lama e aumentando o poder destrutivo”, detalhou Rogério.

Segundo ele, o cenário climático atual exige um aprendizado por parte das autoridades públicas. “Fizemos um levantamento na BR-277, no trecho da Serra do Mar, e já foram identificados mais de 12 pontos sujeitos a deslizamentos. A situação da estrada da Graciosa, apesar de ainda não haver um estudo aprofundado, é até mais grave por se tratar de uma infraestrutura antiga”, contou o geólogo.

“Há técnicas para a mitigação do risco de deslizamentos para cima das rodovias, mas é inviável aplicar isso a toda a extensão da Serra. Por isso, a saída é adotar tecnologias de monitoramento do solo, para que se possa fazer um trabalho de bloqueio do trânsito e evitar a perda de vidas”, complementou. 

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