A Assembleia Legislativa do Paraná realizou, nesta segunda-feira (9), audiência pública sobre o adoecimento de profissionais da educação nas escolas estaduais. O debate reuniu dados sobre uso de medicamentos, afastamentos por transtornos mentais e insatisfação com as condições de trabalho. Dois casos recentes de morte de professoras durante o expediente, em Curitiba, deram visibilidade ao tema.
Silvaneide Andrade, do colégio cívico-militar Jayme Canet, morreu após infarto no último dia 30. Cinco dias depois, Rosane Bobato faleceu na escola estadual Santa Gemma Galgani. Em Cerro Azul, um professor participou de capacitação online mesmo hospitalizado, o que gerou comoção nas redes sociais.
Proponente do evento, o deputado Goura (PDT) lamentou a ausência da Secretaria de Educação e anunciou encaminhamentos como reunião com o procurador-geral de Justiça. Pesquisa apresentada pelo doutorando Everton Grison mostrou que 41% dos professores usam medicação para trabalhar, e 90% se sentem sobrecarregados. Em 2023, segundo o APP-Sindicato, 10,5 mil afastamentos foram por transtornos mentais.
EDUCADORES DENUNCIAM PERDA DE AUTONOMIA
O uso intensivo de plataformas digitais foi apontado como um dos principais fatores de adoecimento. Pesquisa do sindicato revelou que 73% dos docentes se sentem obrigados a utilizá-las, e 36% avaliam que a aprendizagem piorou. Para a professora da UFPR Renata Barbosa, a docência tem sido reduzida à aplicação de conteúdos pré-formatados. “Não há espaço para criação. A tecnologia intensificou o controle e a sobrecarga”, disse.
Educadores também denunciaram os efeitos da militarização e das parcerias com organizações sociais. Esion Freitas, professor da rede estadual, criticou a gestão das escolas cívico-militares e a perda de autonomia da comunidade escolar. Julia Rinaldin, professora PSS, relatou exaustão pela sobrecarga e insegurança contratual. Já o agente educacional Luciano Palagno defendeu a valorização dos servidores concursados.
A advogada Lígia Ziggiotti anunciou que o Observatório Nacional da Violência contra Educadores propôs ao Ministério dos Direitos Humanos a criação de um canal exclusivo para denúncias.