Foram precisos 123 anos após a abolição da escravatura para que, no país que chegou a ser o centro do tráfico humano no mundo, existisse uma data oficial para celebrar o povo negro, parte indissociável da identidade brasileira. Em 2011, foi instituído por lei o Dia da Consciência Negra, lembrado em 20 de novembro, em referência à data de morte de Zumbi dos Palmares, o mais conhecido líder quilombola da história do Brasil.

A partir do dia 13 de maio de 1888, o negro deixou a condição de escravo, mas a barreira da desigualdade permanece intacta. A manutenção de pretos e pardos em situação de subdesenvolvimento social é um dos legados da história de crueldade em que foi erguida nossa nação. Mais de um século depois, negros seguem como maioria em tristes estatísticas, como a de população carcerária e de mortes violentas, e minoria em outros tipos de dados, como o de número de pessoas em posição de poder. Recém saímos de eleições municipais, e tivemos um crescimento no número de negros em posições eletivas no país, de 29% em 2016, para 32% em 2020. Número tímido se levarmos em conta que a população preta ou parda representa pelo menos metade de todos os brasileiros. 

Em Colombo, por exemplo, tivemos a reeleição de Anderson Prego – que se autodenomina preto – ao cargo de vereador, a reeleição de Marcos Dumonte – que se identifica como pardo – e a eleição de outros dois homens pardos: Evandro França e Vital Cabelerero. “Nós (negros e negras) somos no Paraná, historicamente, cerca de 33% da população. É importante observar que a participação do negro na politica é pequena e é uma caracteristica da falta de políticas públicas de incentivo na participação dos negros nos espaços de poder. A falta de referência da pessoa que se identifica como negro. Não basta ser negro, tem que se identificar como negro, construir essa luta”, opina Anderson Prego, que foi o vereador mais votado do último pleito.

A população preta em Colombo é formada por cerca de 8 mil cidadãos e pardos somam mais de 65 mil pessoas. Sem nos esquecermos dos indígenas. Em Colombo, segundo dados de 2010 do IBGE, há aproximadamente 560 indígenas no município. Mas há uma invisibilidade dessa população diante do poder público. Nem a Prefeitura Municipal nem a Câmara dos Vereadores fizeram em seus canais de contato qualquer menção à data, pelo menos até o fechamento desta reportagem. “A gente que é do movimento negro chama isso de racismo estrutural, que é aquele que as instituições cometem com a cultura e as pessoas negras. Acontece pela falta de valorização e de saber da importância desta data para nós refletirmos sobre as contribuições da população negra e dos desafios que temos como negros e negras. Nós precisamos, de fato, que as instituições celebrem esse dia como momento de revelar para a nossa sociedade a participação do negro em todos os aspectos sociais, não só uma data comemorativa, mas para apontar as superações que nós precisamos ter como poderes”, destaca Prego.

Para o político, a mudança para uma sociedade menos desigual deve ser tomada de cima para baixo, ou seja, a partir de políticas públicas que valorizem o ser humano e a cultura afro-brasileira. “A dificuldade que temos é sobretudo a falta de valorização da cultura afro-brasileira. Temos muitas coisas que têm essa origem e não são identificadas assim. Temos grandes artistas, autores, que são negros e a própria história não os identifica como negros. No Paraná temos os irmãos Rebouças, por exemplo (considerados os primeiros engenheiros negros do Brasil e responsáveis pela construção da ferrovia Paranaguá-Curitiba)”, detalha.

Tais ações, inclusive, devem ser tomadas de forma local, segundo o vereador. “Temos que partir lá da Educação, ensinando para nossas crianças a questão da história e da cultura afro-brasileira e infdigena. Isso já é lei nacional, só não é aplicado. Muitas vezes o próprio poder público trabalha isso apenas em novembro. Outra questão é valorizar o afroempreendedorismo. Temos negros e negras que se tornam empreendedores também. Precisa haver esse incentivo para essa categoria social que hoje está empobrecida pela própria falta de políticas públicas. Quando observamos que nao temos nenhum memorial da população negra, não temos um secretário municipal negro, não temos um departamento de promoção da igualdade racial instituído, percebemos que é preciso fazer muito”, decreta. “É importante explicarmos para a sociedade o que é racismo institucional, o que é racismo velado, o que é injúria racial. Muitas pessoas não entendem isso e tudo vira em piada. Isso mexe muito com a vida das pessoas negras de Colombo”, completa.

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