Um dado alarmante aflige a polícia paranaense nesses últimos tempos: é maior o número de policiais que tiram a própria vida do que os que morrem em confronto. Os dados têm como fonte o ,13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, revelando o fatídico fato de que, só no ano de 2018, onze policiais deram cabo às próprias vidas no Estado do Paraná, onde, se levarmos em conta a taxa do número de suicídios por grupo de mil policiais da ativa, em comparativo com o restante do país, o nosso estado ocupa uma vexatória posição de destaque.

O que levaria uma pessoa a atentar contra a própria vida? Pra quem olha pelo prisma de fora, há sim a dificuldade em criar uma empatia com um suicida, o que é compreensível, pois muitas das vezes o “juiz da vida alheia” não está na pele de quem sofre pressões em suas vidas. Em um mundo corrido e globalizado, ligar um “foda-se” ao problema dos outros é a solução mais fácil e confortável.

No mundo policial, onde impera um ambiente de stress, falta de reconhecimento, salários obscenos e julgamentos sumários em verdadeiros tribunais de exceções populares, onde, cabe ao policial o ônus da prova de sua inocência, encontrar um policial estadual desmotivado e com tendências depressivas não é difícil. Basta ir em uma das inúmeras delegacias, principalmente da Região Metropolitana, que você os encontrará. Por que a sociedade não gosta da polícia? Não sou formado em antropologia, nem mesmo em psicologia, não tenho uma resposta exata pra isso, mas eu sinto isso no meu cotidiano policial. Sinto até que, ocasionalmente, somos usados como meretrizes, não que estas não tenham seu valor.

Agora, se a pergunta for reformulada: O que levaria um policial a tirar a própria vida? Ainda padeço desta dúvida, mas, como ator desse filme trash, posso afirmar que o sucateamento das nossas instituições dialoga com o estresse do policial, onde um servidor faz o trabalho de três. Talvez nessa negligência da saúde mental dos policiais esteja a resposta. Talvez alguém se importe com isso.

Luis Felipe Pinto Jogaib “Carioca” é Investigador da DP do Alto Maracanã. CONTATO: inv.lfpjogaib@pc.pr.gov.br

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