Ser grata é bonito.
Reconhecer as conquistas, os encontros e até os aprendizados das dificuldades nos fortalece. Mas, às vezes, a gratidão é confundida com uma obrigação silenciosa de aceitar tudo, até o que machuca.
Quantas vezes já ouvimos que devíamos ser gratas por ter um emprego, um relacionamento ou uma oportunidade, mesmo quando algo dentro de nós gritava que aquilo já não fazia sentido?
Quantas vezes silenciamos nossos desconfortos para não parecer ingratas?
É aqui que mora o perigo: quando a gratidão, ao invés de nos nutrir, nos prende. Quando agradecer se torna um motivo para calar sentimentos legítimos de insatisfação, tristeza ou vontade de crescer.
Na saúde mental feminina, essa distorção é ainda mais sensível. Desde cedo, muitas mulheres são ensinadas a “não reclamar”, a “aceitar com gratidão”, a “não ser ingratas com a vida”. Esse discurso, quando mal compreendido, gera culpa, baixa autoestima e perpetua ciclos de autossabotagem.
É importante lembrar: saúde mental não combina com conformismo.
É possível ser grata pelo que temos e, ao mesmo tempo, reconhecer quando precisamos de mudanças. É possível agradecer e também dizer: “eu mereço mais”.
Gratidão verdadeira fortalece.
Conformismo adoece silenciosamente.
Por isso, cuidar da saúde mental é, também, aprender a diferenciar gratidão real de silenciamento emocional.
É ensinar que agradecer não significa aceitar desrespeito, excesso de carga, relações que não nutrem ou espaços que nos diminuem.
Que cada mulher se sinta livre para agradecer com o coração aberto, mas também para se levantar, se respeitar e se escolher — sempre que precisar.
A gratidão é uma luz.
Mas ela nunca deve apagar quem você é.