A OIM divulgou, em 2024, o Relatório Mundial sobre Migração, que aponta mudanças importantes nos padrões de migração global. O Relatório revela um número recorde de pessoas deslocadas e um crescimento expressivo nas remessas internacionais. O Relatório do ano passado, estimava que existiam cerca de 281 milhões de migrantes internacionais em todo o mundo.

 

Por que as pessoas imigram de seus lugares de origem?

Quando falamos ou pensamos na questão da migração, nos parece óbvio que ninguém acorda um belo dia e decide deixar o seu país de origem, simplesmente por deixar. Sendo assim, vale lembrar que, imigrar, para muitas pessoas, não é uma decisão fácil, feita com leveza — é, muitas vezes, uma urgência. Pessoas deixam seus países por diferentes razões: perseguições políticas, guerras, desastres ambientais, fome, crises econômicas ou até a esperança de uma vida melhor. Há quem parta por sobrevivência, há quem parta por sonho. Imigrantes, refugiados de Guerra e apátridas. O Relatório da OIM de 2024, destacou que do total de migrantes referidos, 117 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar em razão de conflitos armados, violência, desastres naturais e outros fatores — o maior número já registrado até hoje.

Em todos os casos, há uma ruptura com o conhecido, um passo corajoso rumo ao incerto. Quando o lar já não oferece segurança, estabilidade ou futuro, o mundo passa a ser buscado com os próprios pés, carregando a esperança como bagagem.

 

O que elas deixam para trás?

  Ao partirem, os imigrantes não levam apenas a bagagem— levam consigo lembranças, cheiros, sons, histórias. E, ao mesmo tempo, acabam deixando para trás muito mais do que uma casa ou um endereço: deixam afetos, laços familiares, culturas e uma parte das próprias identidades. Abdelmalek Sayad (1998), aponta que imigrar é viver uma espécie de ausência permanente, uma vida entre dois mundos. O imigrante é, muitas vezes, aquele que carrega uma saudade que não cabe em palavras. Ao mesmo tempo em que busca o novo, ele guarda o antigo como quem segura firme algo precioso, ainda que distante. Stuart Hall (2003), ao refletir sobre identidade cultural em contextos de deslocamento, destaca que a imigração desconstrói a ideia de uma identidade fixa, mostrando que ela é moldada de forma constante pelas experiências vividas em diferentes lugares. Isso significa que, ao deixar seu lugar de origem, os imigrantes também entram num processo de reconstrução de si: que precisam, ao mesmo tempo, preservar partes de si e adaptar-se a novos códigos culturais. É nesse entrelaçamento de perdas e reinvenções que se desenha a experiência migratória.

 

Quais as expectativas daqueles que imigram?

Quem imigra, tem em expectativa, mais do que abrigo — espera dignidade. Atravessar fronteiras é, muitas vezes, como disse anteriormente, um gesto de esperança por uma vida melhor, por oportunidades que por vezes, não foram concedidas em seu lugar de origem. Para muitos, imigrar é a possibilidade de recomeçar, de construir uma história onde antes só havia medo, escassez ou silêncio. Mas essa esperança, embora forte, não é ingênua. Zygmunt Bauman (2017), observou que os imigrantes são muitas vezes tratados como “estranhos à nossa porta”, carregando o estigma de ameaças sociais, econômicas ou culturais. E ainda assim, persistem.

Segundo Richard Sennett (2003), o ser humano precisa de reconhecimento para florescer — e é isso que os imigrantes mais desejam: serem vistos, ouvidos e respeitados não apenas como trabalhadores, mas como seres humanos, com suas histórias, capacidades e sonhos. Suas expectativas não se limitam à sobrevivência; elas dizem respeito a pertencer, a se sentir parte de algo. Por trás de cada passo em solo estrangeiro, há o desejo silencioso de encontrar um lugar onde se possa ser quem se é, sem precisar apagar as marcas de onde se veio.

 

A memória, passado e identidade

Dessa forma, mesmo depois de se estabelecerem em novos territórios, os imigrantes não cortam os laços com suas origens. Por vezes, é fora do seu país de origem que essas ligações com sua terra natal se tornam ainda mais importante, através de um conjunto de lembranças do seu País, da cidade, dos costumes, da comida, da língua, que acabam por transformam a memória num refúgio afetivo. Como lembra Michel Pollak (1989), a memória é uma ferramenta importante na construção da identidade. Através dela, os imigrantes e os descendentes, buscam manter vivo um sentido de pertencimento, mesmo longe do lugar onde nasceram. Dessa maneira eles recordam não apenas de eventos e pessoas, mas também de uma forma de viver que os caracterizam.

Uma das formas de ligação com o passado, ocorre principalmente, em ritos e tradições. Podemos tomar como exemplo, o cozinhar um prato típico, celebrar uma festa religiosa ou falar a língua de origem com os filhos são formas de manter o passado presente no cotidiano. Assim, muitas famílias fazem questão de preservar certos costumes mesmo que os descendentes já tenham nascido no novo país. Essas práticas ajudam a construir uma continuidade simbólica com o que foi deixado para trás. Joël Candau (2012) destaca que a memória não é apenas individual — ela é coletiva e cultural, moldada nas relações com o grupo. Assim, os descendentes também aprendem, através da convivência familiar, a carregar essa herança cultural, mesmo que ressignifiquem alguns elementos com o tempo.

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