O município de Colombo possui grande tradição na produção vinícola, e a Festa da Uva consolida o status da cidade como uma das muitas “capitais da uva”. As vinícolas locais, inclusive, são tidas como pontos turísticos, já que algumas delas fazem parte do Circuito Italiano de Turismo Rural. Mas Colombo também tem um grande potencial na produção e na cultura de outro tipo de bebida alcoólica: a cerveja artesanal.
Na última década, o consumo de cervejas artesanais cresceu exponencialmente em todo o país. Entre os anos de 2010 e 2020, o número de cervejarias artesanais subiu de apenas 70 para mais de 900 em todo o país. Em Colombo, há cerca de dez fábricas independentes, que acompanham um mercado em efervescência em Curitiba e Região Metropolitana.
No Brasil, considera-se uma cervejaria como “artesanal” aquela que produz até 250 mil litros/mês, uma classificação grosseira, visto que um produto é artesanal ou não por sua maneira de produção, e não por quantidade. Dito isso, qual é a diferença de uma cerveja artesanal para as cervejas comuns, ou chamadas “comerciais”? “A cerveja artesanal é uma cerveja que é feita com puro malte, realmente puro malte, sem adição de produto químico nenhum. São usados insumos de qualidade, e você vai ter um produto bem melhor”, explicou o mestre cervejeiro Campagnolo, criador da Turbinada Retro Beer, localizada às margens da Rodovia da Uva, e que é uma das marcas colombenses que têm tido um bom reconhecimento no nicho da cerveja artesanal. “Porém, eu sempre bato na tecla de que não é porque é artesanal que é bom. Mas Curitiba e Região Metropolitana tem muita coisa boa, é um dos maiores polos cervejeiros do Brasil”, destaca.
Cerveja turbo
A história da Turbinada Retro Beer é similar a de grande parte das cervejarias artesanais, começando pela iniciativa de amigos ou familiares. “Em 2011, eu e alguns amigos nos reuníamos para tomar cervejas artesanais e começamos a fazer a nossa também, em uma panela em casa mesmo. Na época, eu tinha um restaurante e resolvi vendê-lo, e já em 2013 começamos a fazer comercialmente. Comprei equipamentos, mas ainda fazia na minha casa mesmo, cerca de 1200 litros por mês. Seis meses depois já tive que ir para fábricas, produzi em várias fábricas, a coisa foi crescendo, evoluindo e começamos a fábrica aqui em Colombo em 2018”, relembra Campagnolo. Atualmente, a produção da Turbinada gira em torno dos 30 mil litros por mês, e além das marcas próprias, também cede sua estrutura para a produção de três cervejarias ‘ciganas’: a Perdigueira, a Van Dutch e a Bier Hoff.
A Turbinada possui uma identidade visual retrô, como o próprio nome da marca indica, e isso influencia na forma como é vendida a cerveja. Ao público em geral, você só confere a Turbinada em garrafas de vidro. “A garrafa tem mais a ver com o artesanal, é uma opção minha. Eu prefiro trabalhar com a garrafa, tem um visual diferente”, afirmou Campagnolo, que tem na cerveja mais do que um simples hobby ou obrigação, mas um estilo de vida, que vai da forma como produz até o jeito de se vestir, sempre com um chapéu Panamá.
Na opinião de Campagnolo, o mercado da cerveja artesanal ainda tem um grande potencial de crescimento, mas esbarra nos altos custos de produção. “Atualmente, o custo da cerveja artesanal passa de 42% em impostos. Nossos custos fixos são muito altos, 90% dos insumos que usamos são importados, e com o dólar alto… O problema principal da cerveja artesanal é o custo operacional, desde o espaço físico passando pela mão de obra e chegando aos insumos, que subiram em média 37% durante a pandemia”, detalhou. Outro desafio, de acordo com Campagnolo, é a falta de um mercado mais ativo dentro de Colombo. A maior parte da produção da Turbinada é vendida a estabelecimentos de Curitiba, por exemplo.
A mais vendida
Embora não exista uma certeza absoluta quanto ao número de vendas, na boca dos adeptos da cerveja artesanal, a Mutum Cavalo, uma cerveja do tipo IPA (India Pale Ale) é a mais vendida de Curitiba e Região Metropolitana. E algo que muitos dos consumidores desta bebida não sabem, é de que ela é produzida em Colombo, na cervejaria Ignorus, localizada no bairro do Mauá.
A Ignorus é comandada por Alberto Basso, o Beto, por Marcelo Popi e por Saulo Basso, e nasceu muito depois do surgimento da Mutum Cavalo. A receita foi criada em casa, apenas para consumo próprio, mas já inseridos na cultura da cerveja artesanal, eles apostaram no produto e o inscreveram no 1º Concurso Paranaense de Cerveja Feita em Casa. Além de ter vencido como a melhor IPA, foi escolhida como a melhor do concurso entre todas as categorias. “A partir dali, a gente decidiu que era o que queríamos fazer da vida”, contou Beto. A Mutum Cavalo foi premiada em outros dois concursos, o que ajudou ainda mais na fama da marca. “Criou-se uma expectativa na comunidade cervejeira de que ela fosse produzida em escala comercial. Foi uma demanda que surgiu com as vitórias nos concursos”, afirmou Marcelo.
As produções do trio passaram a ser realizadas de forma cigana até o ano de 2017, quando a fábrica em Colombo começou a ser montada, sendo inaugurada no ano seguinte. São aproximadamente 35 mil litros produzidos por mês. A Ignorus aposta em uma identidade bastante arrojada, que vai dos nomes exóticos (Madame Satã, Berus, Tucandera) até as chamativas latas.
E embora tenham a cerveja mais vendida da região, os donos da Ignorus também veem o mercado colombense abaixo das cidades próximas, como Pinhais e São José dos Pinhais, além, claro, da Capital, mas que há um espaço a ser explorado. “Em todo lugar, o fator que mais influencia é o preço. E as cervejas artesanais são mais caras em relação às cervejas comuns. O poder aquisitivo da região conta muito”, avalia Saulo.
A mão do artesão
Com uma produção de cerca de 2 mil litros mensais, a Baptizein, também com fábrica situada no Mauá, se tornou o propósito de vida de Jair Batistela, um engenheiro químico que atuava como agente financeiro em Araucária. Junto a um amigo, Jair fez suas primeiras produções. Empolgado, comprou alguns equipamentos para utilizar em casa, em janeiro de 2016. “Todo mês nós fazíamos uma cerveja e os resultados da minha cerveja eram bons. Eu distribuía para amigos e parentes, as pessoas gostavam, e comecei a desenhar esse projeto de montar uma fábrica”, conta Jair.
Quando o assunto começou a ficar sério, o amigo de Jair preferiu não continuar, e o futuro mestre cervejeiro decidiu abraçar o sonho, acompanhado pela esposa, Jucimara. Atualmente, o casal cuida de todos os processos da cervejaria, da produção aos trabalhos mais burocráticos. Além da venda direta ao consumidor final, a Baptizein fornece para alguns locais como o Quintal da Vila, em Colombo, e os curitibanos Yellow Dog e Ca’dore.
Como era de se esperar, a pandemia dificultou bastante as coisas para Jair e Jucimara. “Quando montamos a cervejaria, o propósito era vender mais aqui no balcão mesmo. Fizemos a primeira receita definitiva aqui na fábrica em maio de 2019. De junho a dezembro de 2019, tivemos vários eventos aqui dentro, festas de fim de ano de empresa, aniversários, encontro de grupo de amigos. Mas, infelizmente, veio a pandemia e tivemos que mudar um pouco as coisas. Nós não trabalhávamos com growler, por exemplo, e nos obrigamos a trabalhar com o growler para vender via aplicativo”, explica Jair. “Quando começamos a achar que a coisa ia andar bem, veio a pandemia e parou tudo. Nós não recebemos mais ninguém durante o período da pandemia, nós não estávamos vacinados, somos de grupo de risco. Foi praticamente zero de faturamento neste período. Agora, que estamos ambos vacinados, estamos retomando”, completou Jucimara.
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