*Última alteração às 18h39, 21/05.
Em um marco inédito, histórico e carregado de simbolismo, Colombo realizou, na última sexta-feira (16) e sábado (17), a sua 1ª Conferência Municipal LGBTQIA+. Os trabalhos reuniram representantes do poder público, lideranças da sociedade civil e integrantes da comunidade LGBTQIA+ no CEU das Artes, no bairro Maracanã.
Com o tema “Construindo a Política Nacional dos Direitos da Pessoa LGBTQIA+”, o evento seguiu as diretrizes nacionais e debateu temas centrais como enfrentamento à violência, trabalho digno, interseccionalidade e a institucionalização de políticas públicas para o segmento.
“A realização desta conferência é um marco histórico, importantíssimo, que deve servir como ponto de partida para um diálogo mais profundo sobre essa pauta que, por muito tempo, foi deixada de lado”, afirmou Claudia Polli, secretária da Mulher, Família e Direitos Humanos, ao Jornal de Colombo. “É o momento de ouvir. Estamos criando o Conselho Municipal LGBTQIA+, um espaço legítimo para construção coletiva das políticas públicas. Isso é só o começo.”
Um momento histórico e de mobilização coletiva
A atmosfera do evento foi de celebração e esperança, mas também de luta e reivindicação. Israel Sebastião da Silva, coordenador de políticas públicas da área de direitos humanos do município, destacou o ineditismo da ação em uma cidade com histórico conservador.
“Ter essa conferência aqui é histórico. Abrimos as portas para ouvir e dar visibilidade às demandas da comunidade LGBTQIA+. A pergunta que sempre me faço é: onde estão esses LGBTs? Queremos alcançá-los e dizer que o município está mudando.”
O processo de organização do evento envolveu reuniões ampliadas e diálogo com a população, o que demonstrou a intenção de tornar a conferência um espaço democrático.
“Foi um desafio organizar, mas conseguimos mobilizar as pessoas e agora temos um espaço potente de construção coletiva”, reforçou Israel.
Camila Carneiro, diretora executiva da secretaria, ressaltou que a conferência é resultado de uma trajetória que começou anos atrás.
“Quando começamos a trabalhar políticas públicas para as mulheres, percebemos a urgência de recortes específicos para mulheres LGBT+. Essa pauta foi acolhida. Avançamos com a criação da secretaria e agora a conferência. A participação da sociedade civil é essencial para transformar esse momento em um plano de ação.”
Da sociedade civil para a construção de políticas públicas
A ponte entre a comunidade LGBTQIA+ e o poder público foi articulada por lideranças como Dayane Pinto Moreira, coordenadora do evento representando a sociedade civil.
“É um marco histórico para Colombo. A nossa comunidade precisa se organizar, debater políticas públicas e propor mudanças reais para que as violências estruturais deixem de ser norma.”

Colombo realiza 1ª Conferência Municipal LGBTQIA+ da história. Foto: Laísa Trojaike/Jornal de Colombo
Dayane explicou que a comissão organizadora foi paritária, reunindo representantes do poder público e da sociedade civil.
“Queremos protagonismo. A conferência é um espaço legítimo para dizer o que queremos. Estamos também lutando pela criação do conselho LGBTQIA+, que garantirá continuidade a tudo o que for deliberado aqui.”
Ela também apontou as demandas mais urgentes:
“O eixo do enfrentamento à violência é central. Como garantir dignidade se vivemos em lares violentos? Precisamos também de políticas públicas que garantam saúde, assistência e acesso ao trabalho. Ainda somos empurrados para empregos precarizados. Queremos condições reais de viver com dignidade.”
Uma construção com peso institucional
A presença de Mateus César Costa, diretor do Grupo Dignidade — organização que atua há 33 anos na defesa dos direitos LGBTQIA+ no Paraná — deu à conferência um respaldo técnico e simbólico importante.
“As conferências são espaços institucionais de construção de políticas. Elas têm peso. Propostas aprovadas aqui podem chegar à esfera federal e se tornarem referência nacional”, explicou.
Matheus lembrou que, apesar dos avanços legais, os desafios ainda são muitos:
“Hoje, você tem menos chance de sofrer violência do que há 30 anos, mas isso ainda é uma realidade cruel, especialmente nas cidades menores. O Legislativo continua sendo um entrave: não aprova leis pró-LGBT+, e muitas vezes tenta restringir direitos. Precisamos continuar lutando contra o radicalismo e pela convivência com a diversidade.”
Um chamado à sociedade
Para além dos debates internos da comunidade LGBTQIA+, os organizadores enfatizaram a importância de envolver toda a sociedade colombense nesse processo.
“Essa é uma pauta que diz respeito a todos. Não basta não ser preconceituoso — é preciso ser ativamente contra o preconceito”, reforçou Claudia Polli. “Convido toda a sociedade a se engajar. Precisamos agir juntos para garantir direitos e combater desigualdades.”
A conferência também marcou o início da elaboração de um documento oficial com propostas que será enviado à Conferência Estadual e, posteriormente, poderá influenciar a construção de políticas públicas em nível federal.
Representantes eleitos e próximos passos
Durante a plenária final, também foram eleitos os delegados que representarão Colombo na conferência estadual.
Representantes da Sociedade Civil:
- Lohaine Gabrieli Gonçalves (Titular)
- Aghata Emiliane Mazonas Coelho (Titular)
- Dayane Pinto Moreira (Titular)
- Alisson Gonçalves (Titular)
- Fabíola Carneiro (Suplente)
- Arthur Cavalari (Suplente)
- Antonio Marcos Quinupa (Suplente)
- Mayara Amaro (Suplente)
Representantes Governamentais:
- Ana Clara Coracin Batista da Silva (Titular)*
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Gabriel Lang Baptistella (Titular)
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Isabela Soares Ribeiro (Titular)
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Israel Sebastião da Silva (Titular)
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Camila Carneiro Alves Teixeira (Suplente)
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Sara Cristina da Costa (Suplente)
De acordo com o poder público, uma ata pública será elaborada com todas as propostas aprovadas durante a conferência. Este documento servirá como base para a etapa estadual e contribuirá com a construção de políticas públicas em nível nacional, fortalecendo o compromisso institucional com os direitos da população LGBTQIA+.