Estudo publicado na revista Cell aponta que o HKU5-CoV-2, encontrado em morcegos, tem alta afinidade para se ligar a células humanas pelo mesmo receptor usado pelo SARS-CoV-2.

 

Pesquisadores da China identificaram um novo coronavírus, o HKU5-CoV-2, que apresenta potencial para infecção humana. O estudo revela que esse vírus, encontrado em morcegos, se conecta às células pelo receptor ACE2, o mesmo utilizado pelo SARS-CoV-2, responsável pela pandemia de covid-19. Especialistas alertam para a importância da vigilância genômica, mas afirmam que ainda não há motivo para alarme.

Um novo tipo de coronavírus foi identificado por cientistas do Instituto de Virologia de Wuhan, na China. Chamado de HKU5-CoV-2, esse vírus pertence à família dos merbecovírus, subgrupo dos coronavírus, e foi encontrado em morcegos da espécie Pipistrellus. O estudo foi publicado na revista científica Cell e revela que o HKU5-CoV-2 possui uma característica preocupante: ele tem alta afinidade para se conectar ao receptor ACE2, a mesma porta de entrada usada pelo SARS-CoV-2 para infectar células humanas.

Os merbecovírus são conhecidos por sua relação com surtos anteriores, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), registrada entre 2012 e 2015. Segundo a pesquisa, a descoberta levanta preocupações sobre a possibilidade de o HKU5-CoV-2 sofrer mutações que o tornem capaz de se espalhar entre humanos, algo que os cientistas chamam de spillover — a adaptação do vírus para infectar outras espécies, incluindo humanos, direta ou indiretamente.

O infectologista Alexandre Naime Barbosa, chefe do Departamento de Infectologia da Unesp e coordenador científico da Sociedade Brasileira de Infectologia, destacou a importância da descoberta, mas ponderou que ainda não há evidências de que o vírus seja patogênico. “Não é possível afirmar, neste momento, que o HKU5-CoV-2 possa causar doenças em humanos, seja um simples resfriado ou uma condição mais grave”, explicou.

Além disso, Barbosa alertou que, caso esse coronavírus venha a evoluir e se tornar transmissível entre humanos, as vacinas contra a covid-19 não seriam eficazes contra ele, uma vez que pertence a um grupo diferente de coronavírus. Isso reforça a necessidade de vigilância genômica contínua para monitorar novas variantes virais e prevenir futuras pandemias.

Os especialistas ressaltam que a pandemia de covid-19 deixou clara a importância dos sistemas de alerta precoce para novas doenças infecciosas, bem como o fortalecimento da cooperação internacional na pesquisa de vírus zoonóticos. A vigilância genômica, que analisa a evolução dos vírus em circulação, é uma ferramenta essencial para antecipar e conter possíveis surtos antes que se tornem emergências globais de saúde pública.

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