Mudanças climáticas intensificam eventos extremos no país, ameaçando saúde, agricultura e segurança hídrica até 2050
O aquecimento no Brasil já ultrapassa a média global, com temperaturas máximas diárias subindo até 3ºC em algumas regiões. Relatório recém-divulgado sobre mudanças climáticas no país revela projeções alarmantes para os próximos 30 anos, com aumento de secas, enchentes, desmatamento e impactos severos na saúde e na economia.
Nos últimos 60 anos, o Brasil experimentou um aumento de temperaturas superior à média global, com máximas diárias subindo até 3°C em determinadas regiões, de acordo com o relatório “Mudança do Clima no Brasil – Síntese Atualizada e Perspectivas para Decisões Estratégicas”. Desde a década de 1990, o número de dias com ondas de calor no país saltou de sete para 52, indicando um cenário de eventos extremos que se intensifica a cada ano.
“Eventos como secas severas e ondas de calor se tornarão mais frequentes, com alta probabilidade de ocorrência de fenômenos sem precedentes”, destaca o relatório. A pesquisa, elaborada pelo Ministério de Ciência, Tecnologia e Informação em parceria com organizações da Rede Clima, WWF-Brasil e Instituto Alana, será lançada oficialmente em Brasília nesta quarta-feira (6).
PROJEÇÕES PARA O FUTURO
O relatório traz projeções inéditas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para os próximos 30 anos, visando orientar ações de adaptação. Caso o limite de aquecimento global de 2ºC seja alcançado até 2050, críticos impactos na saúde e na agricultura serão cada vez mais comuns. No Brasil, o número de pessoas afetadas por enchentes poderá aumentar entre 100% e 200%, enquanto doenças transmitidas por vetores, como dengue e malária, tendem a se agravar.
Na Amazônia, a combinação de desmatamento e aumento da temperatura pode reduzir em 50% a cobertura florestal, além de comprometer o fluxo dos rios e intensificar a seca em estados como Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. O ciclo de chuvas, vital para a agricultura e a segurança hídrica, também será impactado em todo o país e na América do Sul.
Estima-se que os estoques pesqueiros sejam reduzidos em 77%, com a perda de até 50% dos empregos no setor pesqueiro, gerando um impacto de 30% no PIB. O Nordeste, região onde vivem quase 55 milhões de brasileiros, pode ver até 94% do seu território transformado em deserto, enquanto grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte enfrentarão crises hídricas. Em 2050, projeta-se que 21,5 milhões de pessoas em áreas urbanas sofram com a quebra do ciclo hídrico e impactos nas safras.
MEDIDAS URGENTES
Diante das previsões sombrias, o relatório reforça a importância de limitar o aquecimento global a 1,5°C, exigindo que o Brasil reforce suas políticas de redução de emissões. “As metas brasileiras precisam corresponder ao tamanho da responsabilidade do país na mitigação climática”, afirma o documento.
Entre as ações prioritárias, destaca-se a necessidade de zerar o desmatamento em todos os biomas, promover a agricultura de baixo carbono e ampliar os programas de pagamentos por serviços ambientais. O relatório sugere ainda que a gestão integrada de recursos hídricos e o investimento em sistemas agrícolas resilientes são fundamentais para garantir segurança hídrica e alimentar.
A adaptação urbana é outro ponto crítico. Soluções baseadas na natureza, como o aumento de áreas verdes e investimentos em transporte público de baixo carbono, são necessárias para tornar as cidades mais adaptáveis às mudanças climáticas. A cooperação internacional para financiamento climático e transferência de tecnologias limpas também é essencial para reduzir as emissões e limitar o aquecimento global.
O relatório é um alerta para que as políticas de combate ao aquecimento global sejam tratadas com a urgência e a seriedade necessárias. A manutenção do limite de aquecimento a 1,5ºC e a implementação das medidas propostas são passos cruciais para assegurar a resiliência do Brasil e do planeta frente às mudanças climáticas.