Os atletas e irmãos colombenses Robson Afonso dos Santos e Rodrigo Francisco dos Santos, de 32 anos, integrantes da equipe Urutau, de São José dos Pinhais, foram convocados em setembro para a Seleção Brasileira de Rugby League.

A modalidade, que ainda dá seus primeiros passos no país, começa a colher os primeiros frutos advindos de uma maior organização desde o ano passado e a dupla colombense acompanha essa evolução. Para os dois irmãos, o sentimento de representar o país traz velhas emoções à tona. “Toda criança sempre olha a Seleção Brasileira de Futebol e fala: ‘quero jogar futebol, quero ser astro’. Mas a vida não é assim e nem todo mundo nasce com a habilidade necessária para chegar em uma Seleção. E conforme fui crescendo, fui perdendo esse sonho. Me tornei policial militar, trabalhando direto. Mas agora, é uma sensação muito diferente. Quando fui convocado, me senti uma criança de novo. Vou vestir a amarelinha”, comemora Robson. “Dá todo um nervosismo, frio na barriga. É uma emoção única. Você já começa a se imaginar enfrentando outros países. Eu vou representar o Brasil, toda a população nesse esporte”, ressalta Rodrigo.

A convocação, porém, ainda não se materializou nos treinos e jogos, em razão da pandemia. A princípio, os primeiros treinos estão marcados para dezembro, na cidade de São Lourenço, no interior de Minas Gerais, sede da Seleção Brasileira de Rugby League. 

Início e conquistas

Há cerca de quatro anos, Robson e Rodrigo conheceram o esporte através de um anime, desenho animado de origem japonesa, e decidiram buscar a modalidade na região. “Nosso início no esporte foi meio engraçado. A gente gosta muito de desenho e tinha uma estreia de um anime novo, chamado All Out, que se tratava de rugby. São feitos muitos animes de esporte. Eu gostei e passei pro Robson assistir. Nós achamos interessante e fomos pesquisar se tinha esse esporte aqui. No Paraná chegou a ter vinte times, inclusive Colombo chegou a ter um time de rugby. Então eu encontrei o Urutau, de São José dos Pinhais”, detalha Rodrigo. 

Na equipe são joseense, os irmãos ganharam destaque e projeção nacional. No ano passado, a equipe conquistou o título do primeiro campeonato oficial de nível nacional. “Nós fomos campeões brasileiros de Rugby League em 2019, disputando contra equipes de Minas Gerais, Rio de Janeiro, do próprio Paraná e de São Paulo”, lembra Robson, que se diverte destacando que o Urutau passou por cima do “favoritismo” do time paulista adversário da final. “Tem uma matéria da época que está escrito bem grande: ‘o time Band Devils é o favorito a levar o título do Rugby League’. No primeiro jogo vencemos por 34 a 10, fora o baile”, conta Robson. 

Robson explica que, embora o esporte já seja bastante praticado no país desde 2013 aproximadamente, só no ano passado que o Brasil passou a fazer parte do cenário internacional. “Esse foi o primeiro torneio a nível nacional registrado e catalogado internacionalmente. Já havia tido outros campeonatos, mas a federação brasileira não estava registrada a nível mundial. A federação internacional tem várias exigências para reconhecer um país como legítimo dentro do esporte. Hoje participamos do ranking mundial e esse projeto em que fomos convocados para a Seleção, faz parte de uma ideia de levar o Brasil a disputar a Copa do Mundo da modalidade de 2025”, diz. “Nosso objetivo é ser o primeiro no ranking sul-americano, mas para isso precisamos vencer o Chile no ano que vem. Se passarmos do Chile, automaticamente teremos vaga na America’s Cup, marcada para 2023 com sede na Jamaica, para disputar uma vaga na Copa do Mundo”, detalha.

Segundo Robson, a intenção é fazer a dobradinha com a seleção feminina da modalidade, que já está garantida no próximo mundial da categoria. “O time feminino já disputa ano que vem a Copa do Mundo, em novembro, na Inglaterra”, destaca.

Rotina de treinos

Por se tratar de um esporte que ainda engatinha no país, os gêmeos Robson e Rodrigo precisam conciliar os treinos com a rotina de seus respectivos trabalhos. Robson é policial militar e Rodrigo é caminhoneiro. “O clube atualmente tem treinos nas segundas, quintas e sábado. A parte física acaba dependendo de parcerias ou do próprio dinheiro para buscar esse treino fora. E o horário dos treinos do clube já é adaptado pensando na profissão dos atletas” conta Robson. Além dos gêmeos, o Urutau teve outros três atletas convocados, que poderiam ser em um número até maior, não fosse a árdua divisão de tarefas que muitos atletas precisam cumprir. 

Segundo Robson, o bom desempenho do Urutau se deve muito ao técnico da equipe, o argentino Armando Hector Gauna. “Na Argentina eles respiram Rugby e ele traz muita experiência para nós. Nos ajudou muito. É um cara chato demais, e a chatice dele valeu a pena, porque em quatro anos nunca imaginei que ia chegar na Seleção Brasileira”, destaca.

Futuro

O crescimento do Rugby League ainda é modesto, e a médio prazo, os irmãos colombenses não vêem a possibilidade de viver do esporte. “Hoje, dentro das políticas nacionais, acredito que não. Entre nós, que estamos nesse meio, há muita ajuda, com parcerias, pessoas que compram rifa, sempre conseguimos alguma ajuda. Mas de uma perspectiva de cima para baixo, precisaria mudar muito”, opina Robson, que ressalta que o Rugby lota estádios em outros países tanto quanto o futebol. “Se lá conseguem, aqui também seria possível. Mas há toda uma questão cultural em que não é dada tanta visualização aos outros esportes”, completa.

Para tentar contribuir com o crescimento da modalidade no país, os irmãos alimentam planos de ampliar a organização local. “Já pedi a um vereador para nos apoiar a preparar um campo de rugby no município, não apenas por nós, mas para podermos, por exemplo, dar rugby para as crianças de escolas locais, para ensinar os pilares do esporte, que são o respeito, a disciplina, a integridade, a paixão. Estamos indo atrás, porque atualmente, no interior do Paraná, estão sendo instalados campos de rugby voltados a projetos sociais, como Londrina, Toledo, Maringá e Apucarana”, explica Rodrigo. Além disso, está sendo cogitada a formação futura de federações locais. 

O esporte

O Rugby League é um esporte derivado do tradicional Rugby Union, e embora seja pouco conhecido no Brasil, sua origem remonta ainda do século XIX, na Inglaterra. A modalidade acabou se adaptando para ser mais dinâmico e veloz e atualmente é bastante popular em países da Oceania, em especial a Austrália. “O Rugby Union é o que está nas Olimpíadas. Já o Rugby League ainda não é esporte olímpico. Entre as principais diferenças estão o número de jogadores (13 no League e 15 no Union); o scrum (que é uma disputa de bola para reinício de jogada, mais utilizada no Union); os arremessos laterais (no Union podem ser feitas torres de jogadores, enquanto no League não); e a pontuação. O try (que seria o “gol” do Rugby) vale 4 pontos no League, enquanto no Union vale 5, entre outros pontos específicos”, explica Robson. “O League é uma ‘pancadaria’ mais sincera, mais solta”, brinca. 

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